Após um breve momento de silêncio, Christian falou praguejando um pouco:
- Ahh... hãã. – ele engoliu a saliva. – Me desculpe, Lan Lyess. Eu hã, não queria te insultar.
Sorri.
- Se não queria insultar, por que não pensa nas palavras antes delas lhe escaparem pela boca, Sir Christian? – perguntei-lhe dando bastante ênfase no “Sir”.
Ele sorriu se desculpando, porém os olhos mostravam certa raiva.
- Me desculpe. Vou pensar nelas, sim, antes de serem pronunciadas. – seu tom de voz havia mudado, parecia uma voz de alguém irritado.
Ficamos sentados em silêncio, durante bastante tempo. Uma hora ou outra, sentia o olhar de Christian sobre mim. Víamos as pessoas andarem e dançarem pelo salão, mas sem nunca falarmos nada.
O cavaleiro Sir Christian lançou-me um longo olhar de curiosidade.
- O que foi? – perguntei indiferente.
- Você falou que é uma arqueira. Mas nesse feudo já existe um arqueiro. – ele falou desconfiado e acrescentou depressa: – Que não é você.
Ele estava certo: eu não pertencia ao feudo
- Sou a arqueira encarregada do feudo Torvolan. Porém, o arqueiro daqui teve que se ausentar por um tempo, então me mandaram para cá. Além de que eu já teria que vir até aqui para ver o casamento de Ágata. – sorri. – Afinal, que tipo de amiga eu seria se não viesse a sua festa?
Ele sorriu e o clima ficou mais leve entre nós. Não sei a Christian, mas aquele clima tenso e silencioso não me agrada muito.
- E você? Conhece Ágata? – perguntei como quem não quer nada.
- Eu sou o irmão dela. – ele falou provavelmente no mesmo tom de voz em que falei que eu era uma arqueira: tranquilo, sério, mas ao mesmo tempo divertido e zombador.
Fiquei de boca aberta.
- Não, não. – falei confusa. – Ágata nunca teve irmão e ainda não tem. Quer dizer... ela teria me falado, não?
Christian sorriu de um jeito que ainda não o tinha visto fazer, um sorriso orgulhoso e elegante. De repente, reparei melhor nele. Seus cabelos pretos ficavam em contraste com sua pele clara e fazia parecer que seus finos olhos azuis brilhavam sob as sobrancelhas.
- Parece que estamos iguais agora. – ele sorriu brincalhão. – Os dois tentando parecer melhor do que é e os dois passando vergonha.
Ele deu uma risada curta e sorri em resposta.
- Mas como ela nunca me falou sobre você? – perguntei, o sorriso desaparecendo do meu rosto.
Sir Christian fez um gesto com a mão e falou:
- Me desculpe. Na verdade não sou irmão dela. – um “Arrá, você estava mentindo” quase escapou por meus lábios antes de ouvir o que ele iria dizer depois: - Sou um meio-irmão..., por parte de pai.
- Você é mais novo que ela, – falei e logo acrescentei: – ou não?
Ele deu uma risada. Seu humor estava bem melhor agora do que quando nos conhecemos.
- Sou mais velho. Ágata tem 24 anos, eu sou um ano mais velho que ela.
- Hmm...
Eu ainda pensava no por que de a Ágata nunca ter me contado sobre ele.
- E você tem...? – ele perguntou.
- Vinte e dois. – respondi sem prestar muita atenção. – Mas... por que ela nunca me contou?
Sir Christian abaixou a cabeça.
- Você está mentindo, não? – acusei-o.
Ele levantou a cabeça e olhei em seus olhos. Um lindo azul profundo. Uma ruga em forma de “v” se formava em sua testa, algo provavelmente começava a perturbá-lo.
- Não estou mentindo. – ele forçou um sorriso. – Se quiser, pode perguntar à Ágata. Pergunte-a sobre seu irmão Christian.
Pensei sobre o assunto brevemente.
- Está bem. – falei decidida com um sorriso. – Eu vou. Você vai ficar aqui ou quer ir cumprimentar sua irmã?
Ele olhou para a mesa e depois de volta para mim.
- Vou te esperar aqui. – falou simplesmente com um sorriso.
Caminhei pelo salão, procurando por Ágata. Depois de um tempo procurando-a sem encontrá-la, perguntei ao seu marido se a havia visto.
- Ela estava por aqui agora pouco, acho que ela está com o Geraldo. – foi sua resposta.
- Hmm... – falei. – Obrigada.
Comecei a voltar à mesa onde Christian me esperava. Avistei-a de longe. Eu não tinha certeza, mas ela me parecia vazia. Andei mais um pouco até chegar mais perto e, vendo que ela realmente estava sem ninguém, olhei para os lados à procura de Christian. Uma mão me cutucou no ombro e me virei em um ato rápido e instintivo.
- Gostaria de dançar comigo, linda jovem? – perguntou educadamente o dono dos olhos azuis e do sorriso nos lábios.
Sorri e, sem resposta, caminhamos juntos até o meio do salão. Agora uma música agradável e lenta era tocada e pessoas dançavam. Christian se virou para mim e colocou sua mão na lateral do meu ombro e eu fiz o mesmo no seu. Com a outra mão, ele segurou minha mão e começamos a dançar.
Após alguns minutos dançando em silêncio, olhar fixo em olhar, Christian sorriu e me perguntou calmamente:
- E então? O que minha irmã falou?
Apesar da tranquilidade, senti a curiosidade em sua pergunta. Sorri. Eu havia esquecido esse assunto por um momento. Era como se eu estivesse sendo hipnotizada pelo olhar do charmoso Sir Christian. “Ele é encantador” pensei “não, não, não. Você não pode pensar assim. Você é uma arqueira e não pode ficar se distraindo. Mas os olhos dele... ele...”
- Eu não achei Ágata. – informei-lhe.
Ele fez uma cara de frustração.
- Eu realmente gostaria de saber por que ela nunca nos apresentou.
- Ela deve estar com o sobrinho. Daqui a pouco ela volta e então...
Parei um instante e travei os pés no chão, fazendo com que Christian também parasse de dançar.
- Geraldo é seu filho?! – perguntei incrédula.
Um momento de silêncio. Uma ruga se formou entre suas sobrancelhas e ele me lançou um olhar de dúvida.
- Geraldo? Quem é... Ah! O Geraldo. – ele mostrou os dentes em um sorriso misturado a um riso e recomeçou a dançar, me levando com ele nos movimentos.
- Ele é? – perguntei.
- Não, não. Ele é filho da irmã da Ágata, a Melissa. Acho que ela você conhece, arqueira Lan.
- Ah. É. Ela eu conheço. E... me chame de Lanna, por favor. – falei com um sorriso.
O cavaleiro deu um sorriso torto e falou em uma voz gentil e aveludada:
- É claro, Lanna.
Ele estendeu uma das mãos e tocou meu rosto com as pontas dos dedos. Um arrepio me percorreu ao seu toque, mas não algo ruim. Ele voltou a segurar minha mão e voltamos a dançar novamente.
Neste momento, um vulto passou correndo e gritando pela porta do grande salão e todos pararam o que estavam fazendo.
- Me ajudem! Me ajudem! É a Ágata!
As pessoas se amontoaram em volta do vulto que agora estava parado e ofegando. Quando cheguei mais perto, reconheci-o como sendo Geraldo.