terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Aqui vai a primeira parte ^^

Entrei no grande salão tentando não chamar a atenção de muita gente. Todos estavam arrumados. Homens com suas roupas formais e mulheres com seus vestidos longos. Eu não era uma exceção: meu cabelo estava preso para trás e eu usava um vestido longo verde cor de esmeralda. Meu colar com o pingente da folha de carvalho de prata (que me identificava como um membro da corporação de arqueiros) estava escondido sob a gola do vestido.


Caminhei até minha grande e velha amiga, que no momento estava dando uma festa devido ao seu casamento. Dei-lhe um beijo no rosto e outro beijo no rosto de seu noivo.


- Parabéns. – falei educadamente. – Tenho certeza de que serão muito felizes!


Os dois sorriram para mim, eu devolvi o sorriso e decidi que em momentos assim não dava par ser tão educada e tão formal. Dei um abraço forte em minha amiga e ela retribuiu-o.


- Não sei como as pessoas conseguem ser tão formais. – falei rindo. – Parabéns! Parabéns, Ágata. Estou tão feliz por vocês.


- Ahh, Lanna. Obrigada. Também estou feliz. – disse ela saindo do abraço.


Um garoto de uns 8 anos de idade passou por mim e ficou do lado da minha amiga, dando puxões em seu vestido para chamar-lhe a atenção.


- Que foi, Geraldo? – ela falou baixinho ao menino.


- Vem cá. Vem ver isso. – ele disse preocupado e com grande interesse.


Ele puxava Ágata pelo vestido, mas ela, teimosa, ficou parada e perguntou:


- Ver o que?


- Eu vi... eu vi umas pessoas no bosque. E tinha uns bichos. – ele falou enquanto dava outro puxão no vestido dela.


- Me desculpe, Lanna. Esse é meu sobrinho, Geraldo. – ela deu uma olhada para ele e falou desistindo – Tudo bem. – e voltando o olhar para mim – Terei que ir lá dar uma olhada, senão ele não vai parar de atormentar.


Dei-lhe um sorriso de compreensão. O marido de Ágata havia se afastado para cumprimentar outros convidados que haviam acabado de chegar.


Minha amiga atravessou o salão principal do castelo, onde estava ocorrendo a festa. Eu, logo que ouvi o que o menino havia falado, havia ficado curiosíssima, como todos os arqueiros teriam ficado. Segui-os silenciosamente, me esgueirando entre as colunas que sustentavam o teto.


Fiquei surpresa ao ver que Geraldo não foi à direção do portão principal. Ele caminhou até uma escada em espiral que subia até uma plataforma onde havia uma janela de vidro. Subimos os três as escadas. Geraldo subia de dois em dois degraus, Ágata não parava de lhe perguntar por que era tão importante ela ver e eu me escondia da vista dos dois. Na verdade não sei se era realmente necessário me esconder, mas mesmo assim não me deixei ser vista por ninguém.


Por trás dos dois, olhei pela janela e consegui ver o bosque, o gramado do castelo, as nuvens e o sol, pássaros voando... Mas não vi nenhum sinal de pessoas.


- Viu? – Ágata disse ao menino. – Não há nada.


- Mas... mas... – o garoto disse sem acreditar. – Estava lá. Tinham várias pessoas. E tinham alguns lobos e...


- Lobos? – Ágata perguntou e caiu na gargalhada. – Geraldo, aqui não tem lobos, só tem lobos ao norte. – e deu outra gargalhada.


Achei que se eu ficasse mais tempo ali, logo seria vista quando eles começassem a voltar à festa, então comecei a descer a escada e voltar ao salão principal. Depois eu verificaria as redondezas do feudo para me certificar de que não havia ninguém.


Chegando à festa, me sentei em uma mesa ao canto. Como arqueira, eu não gostava muito de chamar atenção, mas sempre estava olhando em volta. A maioria das pessoas do reino de Araluen não gostava da companhia de arqueiros. Eles acreditavam que as habilidades dos arqueiros provinham de magia negra e não do rígido treinamento que recebemos durante nosso aprendizado. Normalmente, quando as pessoas reconheciam os arqueiros sem a capa verde acinzentada que nos ajuda a camuflar, elas ficavam de olho em nós, se perguntando se iriamos desaparecer ou algo do tipo. Quando isso não acontecia, elas nos tratavam como se fossemos pessoas normais.


Um jovem mais ou menos da minha idade, entre 20 e 22 anos se aproximou da mesa em que eu estava sentada e fixou-me com seus olhos azuis.


- Posso me sentar aqui? – perguntou-me. – As outras mesas estão ocupadas.


Dei um breve sorriso. Ágata nunca havia sido muito boa com contas. Ela deve ter contado errado quantos de seus convidados viriam e agora faltavam mesas e cadeiras.


- Claro. – respondi gentilmente.


Olhei atentamente para ele. Eu já o havia visto. Ele reparou no meu olhar e perguntou:


- O que foi?


Balancei a cabeça, tentando me lembrar.


- Não, não é nada. É só que... acho que já te vi... Quem é você?


- Sou Christian. Sir Christian.


Esse nome...


- Me lembro de você... – comecei meio em dúvida se devia comentar minha lembrança, mas depois achei que não tinha porque não falar – Eu estava no castelo do rei, conversando com ele quando você apareceu e nos interrompeu dizendo que o príncipe tinha voltado de Céltica. – falei, criticando-o pela atitude de interromper uma conversa do rei.


- Ah. Hã... me desculpe. – ele deu de ombros, mostrando que a acusação não o havia afetado. – Por curiosidade, posso saber o que você estava falando com o rei? – ele perguntou, me desprezando ao falar a palavra “você” com certo tom de ironia.


Continuei séria, mas um sorriso se formava dentro de mim.


- Desculpe. É sigilo completo. Um segredo que...


Mas não consegui acabar por que sir Christian me interrompeu dizendo:


- Ahh, me desculpe se você tem muitos segredos com o rei. Afinal, quem é você? – ele falou a última frase com grande desprezo, o que fez meu sorriso interior crescer ainda mais.


- Ah. Eu? Ninguém de importância. Sou Lan Lyess, arqueira número 36. – falei enquanto tirava o colar com o pingente da folha de carvalho de debaixo da gola do vestido e lhe mostrava.


No momento em que eu falei “arqueira número 36”, o mesquinho sir Christian se calou e um sorriso percorreu minha face. A ordem dos arqueiros era respeitada em todo o reino. Não se devia zombar de seus membros. Ainda mais de seus deveres e obrigações com o rei. Eles deveriam guardar segredos e sempre ter lealdade para com o rei. Os números, no meu caso o “36”, era para referir a qual feudo tomávamos conta. Tem cinquenta feudos, um arqueiro ou arqueira para cada feudo.

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