sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

2ª parte

Após um breve momento de silêncio, Christian falou praguejando um pouco:


- Ahh... hãã. – ele engoliu a saliva. – Me desculpe, Lan Lyess. Eu hã, não queria te insultar.


Sorri.


- Se não queria insultar, por que não pensa nas palavras antes delas lhe escaparem pela boca, Sir Christian? – perguntei-lhe dando bastante ênfase no “Sir”.


Ele sorriu se desculpando, porém os olhos mostravam certa raiva.


- Me desculpe. Vou pensar nelas, sim, antes de serem pronunciadas. – seu tom de voz havia mudado, parecia uma voz de alguém irritado.


Ficamos sentados em silêncio, durante bastante tempo. Uma hora ou outra, sentia o olhar de Christian sobre mim. Víamos as pessoas andarem e dançarem pelo salão, mas sem nunca falarmos nada.


O cavaleiro Sir Christian lançou-me um longo olhar de curiosidade.


- O que foi? – perguntei indiferente.


- Você falou que é uma arqueira. Mas nesse feudo já existe um arqueiro. – ele falou desconfiado e acrescentou depressa: – Que não é você.


Ele estava certo: eu não pertencia ao feudo


- Sou a arqueira encarregada do feudo Torvolan. Porém, o arqueiro daqui teve que se ausentar por um tempo, então me mandaram para cá. Além de que eu já teria que vir até aqui para ver o casamento de Ágata. – sorri. – Afinal, que tipo de amiga eu seria se não viesse a sua festa?


Ele sorriu e o clima ficou mais leve entre nós. Não sei a Christian, mas aquele clima tenso e silencioso não me agrada muito.


- E você? Conhece Ágata? – perguntei como quem não quer nada.


- Eu sou o irmão dela. – ele falou provavelmente no mesmo tom de voz em que falei que eu era uma arqueira: tranquilo, sério, mas ao mesmo tempo divertido e zombador.


Fiquei de boca aberta.


- Não, não. – falei confusa. – Ágata nunca teve irmão e ainda não tem. Quer dizer... ela teria me falado, não?


Christian sorriu de um jeito que ainda não o tinha visto fazer, um sorriso orgulhoso e elegante. De repente, reparei melhor nele. Seus cabelos pretos ficavam em contraste com sua pele clara e fazia parecer que seus finos olhos azuis brilhavam sob as sobrancelhas.


- Parece que estamos iguais agora. – ele sorriu brincalhão. – Os dois tentando parecer melhor do que é e os dois passando vergonha.


Ele deu uma risada curta e sorri em resposta.


- Mas como ela nunca me falou sobre você? – perguntei, o sorriso desaparecendo do meu rosto.


Sir Christian fez um gesto com a mão e falou:


- Me desculpe. Na verdade não sou irmão dela. – um “Arrá, você estava mentindo” quase escapou por meus lábios antes de ouvir o que ele iria dizer depois: - Sou um meio-irmão..., por parte de pai.


- Você é mais novo que ela, – falei e logo acrescentei: – ou não?


Ele deu uma risada. Seu humor estava bem melhor agora do que quando nos conhecemos.


- Sou mais velho. Ágata tem 24 anos, eu sou um ano mais velho que ela.


- Hmm...


Eu ainda pensava no por que de a Ágata nunca ter me contado sobre ele.


- E você tem...? – ele perguntou.


- Vinte e dois. – respondi sem prestar muita atenção. – Mas... por que ela nunca me contou?


Sir Christian abaixou a cabeça.


- Você está mentindo, não? – acusei-o.


Ele levantou a cabeça e olhei em seus olhos. Um lindo azul profundo. Uma ruga em forma de “v” se formava em sua testa, algo provavelmente começava a perturbá-lo.


- Não estou mentindo. – ele forçou um sorriso. – Se quiser, pode perguntar à Ágata. Pergunte-a sobre seu irmão Christian.


Pensei sobre o assunto brevemente.


- Está bem. – falei decidida com um sorriso. – Eu vou. Você vai ficar aqui ou quer ir cumprimentar sua irmã?


Ele olhou para a mesa e depois de volta para mim.


- Vou te esperar aqui. – falou simplesmente com um sorriso.


Caminhei pelo salão, procurando por Ágata. Depois de um tempo procurando-a sem encontrá-la, perguntei ao seu marido se a havia visto.


- Ela estava por aqui agora pouco, acho que ela está com o Geraldo. – foi sua resposta.


- Hmm... – falei. – Obrigada.


Comecei a voltar à mesa onde Christian me esperava. Avistei-a de longe. Eu não tinha certeza, mas ela me parecia vazia. Andei mais um pouco até chegar mais perto e, vendo que ela realmente estava sem ninguém, olhei para os lados à procura de Christian. Uma mão me cutucou no ombro e me virei em um ato rápido e instintivo.


- Gostaria de dançar comigo, linda jovem? – perguntou educadamente o dono dos olhos azuis e do sorriso nos lábios.


Sorri e, sem resposta, caminhamos juntos até o meio do salão. Agora uma música agradável e lenta era tocada e pessoas dançavam. Christian se virou para mim e colocou sua mão na lateral do meu ombro e eu fiz o mesmo no seu. Com a outra mão, ele segurou minha mão e começamos a dançar.


Após alguns minutos dançando em silêncio, olhar fixo em olhar, Christian sorriu e me perguntou calmamente:


- E então? O que minha irmã falou?


Apesar da tranquilidade, senti a curiosidade em sua pergunta. Sorri. Eu havia esquecido esse assunto por um momento. Era como se eu estivesse sendo hipnotizada pelo olhar do charmoso Sir Christian. “Ele é encantador” pensei “não, não, não. Você não pode pensar assim. Você é uma arqueira e não pode ficar se distraindo. Mas os olhos dele... ele...”


- Eu não achei Ágata. – informei-lhe.


Ele fez uma cara de frustração.


- Eu realmente gostaria de saber por que ela nunca nos apresentou.


- Ela deve estar com o sobrinho. Daqui a pouco ela volta e então...


Parei um instante e travei os pés no chão, fazendo com que Christian também parasse de dançar.


- Geraldo é seu filho?! – perguntei incrédula.


Um momento de silêncio. Uma ruga se formou entre suas sobrancelhas e ele me lançou um olhar de dúvida.


- Geraldo? Quem é... Ah! O Geraldo. – ele mostrou os dentes em um sorriso misturado a um riso e recomeçou a dançar, me levando com ele nos movimentos.


- Ele é? – perguntei.


- Não, não. Ele é filho da irmã da Ágata, a Melissa. Acho que ela você conhece, arqueira Lan.


- Ah. É. Ela eu conheço. E... me chame de Lanna, por favor. – falei com um sorriso.


O cavaleiro deu um sorriso torto e falou em uma voz gentil e aveludada:


- É claro, Lanna.


Ele estendeu uma das mãos e tocou meu rosto com as pontas dos dedos. Um arrepio me percorreu ao seu toque, mas não algo ruim. Ele voltou a segurar minha mão e voltamos a dançar novamente.


Neste momento, um vulto passou correndo e gritando pela porta do grande salão e todos pararam o que estavam fazendo.


- Me ajudem! Me ajudem! É a Ágata!


As pessoas se amontoaram em volta do vulto que agora estava parado e ofegando. Quando cheguei mais perto, reconheci-o como sendo Geraldo.

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